O carioca Marco Archer Cardoso Moreira viveu 17 anos em
Ipanema, 25 traficando drogas pelo mundo e 11 em cadeias da Indonésia, até
morrer fuzilado, aos 53, no sábado (17), por sentença da Justiça daquele país
muçulmano. Marco sabia as regras do país quando foi preso no aeroporto da
capital Jakarta, em 2003, com 13,4 quilos de cocaína escondidos dentro dos
tubos de sua asa delta. A cotação da época da mercadoria em Bali era de 3,5
milhões de dólares. Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no arquipélago indonésio
passou sua última noite em liberdade num BARRACO de pescador, em Lombok, a
poucas braçadas de mar da liberdade. Duas horas antes de ser executado, sua voz estava firme, parecia esperar um milagre, mesmo faltando tão
pouco tempo para enfrentar o pelotão de fuzilamento. Deixou esta vida com o bom
humor intacto, resignado. Sabe-se que ele pediu uma garrafa de uísque Chivas
Regal na última refeição e comeu um pote-de-leite que uma tia teria lhe levado.
Há uns idiotas nas redes
sociais tendo orgasmos múltiplos com a execução pública do brasileiro na
Indonésia, alguns com comentários do tipo: “e as vidas que ele tirar com essas
drogas?” Nesse sentido, acidentes com automóvel mataram mais que as drogas no último
século. Que tal punir as montadoras? “Ah, mas aí depende do uso que se faz
automóvel e de como aprendemos a usá-lo”. Só há contrabando porque há
consumidor, oh imbecis.
Muitas das postagens que
estão correndo nas redes sociais sobre a pena de morte para o brasileiro na
Indonésia não estão refletindo sobre a gravidade de seu delito (ELE NÃO
ATENTOU CONTRA A VIDA DE NINGUÉM) para concordar com as leis indonésias, mas
projetando o seu sentimento pessoal sobre o tráfico de drogas no Brasil e o seu
desejo de vingança contra aquilo que, diariamente, parte da mídia escolhe
mostrar.
Impressionante
são os termos “terrorista” tão ao gosto de certos governos e da mídia, os tais
terrorista são descritos como bárbaros e selvagem, quando lutam contra as
potencias ocidentais. Os mesmos grupos se opondo as forças não alinhadas a OTAN
são denominados de “nacionalistas”. Bombardear, destruir nações, matar milhares
de civis, destruir nações, seus lares, suas famílias e se apoderar de suas
riquezas não são ações terrorista ao contrario, são ações legitimas, pois
visavam implantar a “democracia” dos ditos civilizados a esses povos bárbaros.
Domingo, manhã seguinte,
a notícia mais chocante daquele final da semana do terror que abalou o mundo
não veio de Paris. Vem de Maidiguri, cidade do nordeste da Nigéria, e está
escondida no pé da página A14 do Jornal paulistano “Folha”, sob o título
"Menina-bomba mata 20 em ataque na Nigéria _ Suspeita recai sobre grupo
islâmico Boko Haram, que já causou mais de 13 mil mortes" e, recentemente,
sequestrou mais de 200 meninas numa escola. A matéria tem a assinatura
anônima "Das agências de notícias" e não vem acompanhada de
análises de especialistas sobre o atentado suicida provocado por uma
menina de 10 anos num mercado lotado, que deixou 20 mortos, incluindo a
criança, e 18 feridos.
Na
segunda-feira, dia 19, em Grozny, capital da Tchetchênia, num dos muitos
protestos registrados durante o dia, mais de um milhão de pessoas foram às ruas
numa marcha convocada pelas autoridades locais contra as caricaturas de Maomé
publicadas no Charlie Hebdo
O que nos deixa
intrigado como cidadão do mundo é esta reação seletiva entre o que
aconteceu em Paris e os fatos de Maiduguri, que se repetem todos os dias na
Nigéria, em vastas regiões da África e do Oriente Médio, sem que ninguém saia
às ruas para condenar as guerras e pedir paz, com a honrosa exceção do papa
Francisco. Este sim, um ser humano de muita grandeza.
Para mim, uma
vida é uma vida é uma vida, todas têm o mesmo valor. Podem existir vivos de
primeira ou segunda classe, mais ou menos importantes e simbólicos, mas os
MORTOS SÃO TODOS IGUAIS. E é por todos eles que devemos chorar.
A ministra Ideli Salvatti, da Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil, afirmou na
segunda-feira (19) que o Brasil mantém política contrária a adoção de pena de
morte. A declaração foi feita em Face to Face no perfil da secretaria no
Facebook.
“A pena de morte é irreversível e não é
educadora e não faz parte da tipificação penal. O Brasil participa na ONU do
grupo de países que defendem a eliminação da pena de morte no mundo”, declarou. A ministra citou como exemplo o programa “Braços Abertos”,
iniciativa promovida pela prefeitura de São Paulo, através do Prefeito Fernando
Haddad do PT, na região da Cracolância que refletiu na melhora de índices de
segurança pública na capital paulista, reintegrando mil e duzentas pessoas ao
convívio social paulistano.
Marco viajou pelo mundo todo, teve um monte de mulheres, foi nos lugares
mais finos, comeu nos melhores restaurantes, tudo só no glamour, nunca usou uma
arma. Dizia sempre “não posso me queixar da vida que levei”. “Se eu fosse
respeitar as leis nunca teria vivido o que vivi”, sempre alegava. Com o
dinheiro fácil manteve apartamentos em Bali, Hawai e Holanda, sempre abertos
aos amigos: “Nunca me perguntaram de onde vinha o dinheiro pras nossas
baladas”.
A mãe dele, dona Carolina, funcionária pública estadual no Rio, mexeu os
pauzinhos enquanto deu para livrar o ‘garotão’ da enrascada, até morrer de
câncer, em 2008. Quando ia visitá-lo, dona Carola, DORMIA NA CAMA COM O FILHO.
Marco desrespeitou a
legislação de outro país e, por conta disso, é natural que fosse punido.
Mas pagar com a própria vida foi um custo demasiadamente alto. Vale salientar
que ele foi o primeiro ocidental a receber
a pena de morte na Indonésia. Há muita demanda, até porque a Indonésia é usada
como centro de distribuição das drogas para outros países asiáticos e a
Austrália.
No domingo, naquela FALSA CAMINHADA PELA PAZ em Paris, os chefes
presentes se dividiam entre os que ganham com venda de armas e os que compram
armas. Olhar para aqueles chefes nacionais apenas pelo que
são, sem os relacionar ao simbolismo pretendido de suas insípidas presenças na
manifestação parisiense, proporciona uma visão da orientações atual do mundo:
desordem e hipocrisia como normas globais.
O senhor Vinícius
Cardoso Cardona pergunta: “quantos daquela primeira fila de notáveis defensores
da liberdade de expressão estariam presentes em uma manifestação contra o
terror na Nigéria, onde crianças de dez anos estão sendo usadas para carregar
bombas? Alguém se habilita? Já o senhor João Santos, “vidas são vidas em Paris,
Nova Iorque, Rio de Janeiro, Bagdá ou Tóquio... porém não vejo a mesma comoção
quando centenas de crianças palestinas inocentes morrem todos os dias devido
aos bombardeios ocasionados pelos israelenses e suas forças aliadas. Vale uma
reflexão.”
A Presidenta Dilma
Rousseff também lamentou a execução do brasileiro e dirigiu uma mensagem de
conforto à família de Archer. Para a presidenta, “a pena de morte é um
instituto que não só fere o preceito constitucional do Brasil, como que é
também contrário à índole e aos valores morais do povo brasileiro”.
O BLOG Conversa Afiada reproduz do DCM texto de Paulo Nogueira:
Certas
coisas despertam a nossa atenção para absurdos dos quais nem sempre nos demos conta
na hora em que ocorreram.
Por
exemplo: os 13,4 quilos que levaram ao fuzilamento do brasileiro Marco Archer,
na Indonésia, são uma insignificância em relação à meia tonelada de pasta de
cocaína descoberta no helicóptero dos Perrelas.
Você,
pela tragédia de Archer, tem uma ideia da omissão da mídia e da polícia
brasileira no caso do helicóptero.
O
interesse público, mais uma vez, foi para o fim da fila.
Se
meia tonelada de cocaína não é notícia, não é manchete, não é motivo para
investigações frenéticas da mídia e para pressões de repórteres sobre a
polícia, então o que é?
Você
pode dizer, com cinismo e descaro, e estará certo: depende de quem seja o
portador. Meio quilo no carro de um amigo de Lula receberia uma cobertura
estrepitosa.
Ninguém,
na grande mídia, fez nada decente sobre o helicóptero dos Perrelas.
Na
internet, graças à generosidade e ao ativismo dos leitores que financiaram
nosso trabalho, mergulhamos no caso.
Não
é fácil fazer jornalismo independente no Brasil. Nosso documentário sobre o
‘Helicoca’, por obra de alguma força oculta, foi abruptamente retirado do
YouTube, para onde só voltou há pouco graças a nossa teimosia e perseverança.
O
repórter Joaquim Carvalho teve acesso a um documento da Polícia Federal no qual
estava a informação de que o helicóptero pousara num hotel antes de seguir
viagem e ser interceptado pela polícia.
A
informação foi confirmada pelo piloto, numa entrevista gravada por Joaquim.
Mesmo
assim, diante de tais fatos, o hotel entrou na Justiça e fomos obrigados a
retirar do ar os textos em que seu nome aparecia.
Como
meia tonelada virou nada para a mídia?
A
hipótese mais provável é a seguinte. Os Perrelas são ligados a Aécio, e Aécio é
amigo dos donos das empresas jornalísticas.
Mexer
no assunto, segundo essa lógica, poderia atrapalhar a campanha do amigo Aécio.
Sem
o helicóptero a fama de playboy de Aécio já era um problema suficientemente
grande em sua tentativa de subir a rampa do Planalto.
Apenas
a título de especulação. Imagine que Archer, na Indonésia, tivesse dito que a
cocaína transportada em sua asa delta não era dele. Alguém pôs isso lá,
acreditem.
No
Brasil, a mídia aceitou, sem questionamentos, a versão de que a cocaína nada
tinha a ver com os donos do helicóptero.
Teria
sido apenas uma coincidência que, entre tantos helicópteros que voam no Brasil,
alguém tivesse escolhido exatamente o dos Perrelas para depositar a cocaína.
Pode
ser verdade, aliás. Mas a sociedade teria que ser cientificada disso com
informações convincentes e confiáveis.
Não
foi o que ocorreu até aqui.
E,
se não o episódio não foi esclarecido até agora, esqueça: o helicóptero entrará
no museu dos enigmas que ninguém quer resolver.
Moral
da história.
A
mídia que deu tamanho espaço a um caso que envolvia 13,4 quilos de cocaína
simplesmente desprezou outro com uma carga mais de 30 vezes maior.
Pobres
leitores, pobres telespectadores, pobres ouvintes.
Entre os 64 traficantes
presos na Indonésia condenados à morte há outro brasileiro, o paranaense
Rodrigo Goularte, preso em 2005, ao tentar entrar no país com seis quilos de
cocaína, escondidos em pranchas de surfe.
Os embaixadores
do Brasil e da Holanda JÁ foram retirados daquele País.
Todavia, o que assusta é que a Indonésia e seu
regime corrupto, com suas punições desproporcionais e as condições de vida
degradantes do povo, está virando quase que um modelo para uma parcela dos
brasileiros que afirma “invejar” pena de morte para traficantes enquanto o
mundo desenvolvido trata de descriminalizar as drogas.
“Quem quiser encontrar as sementes do caos que
também atingiram, em forma de balas, os corpos dos mortos do Charlie Hebdo poderá
procurá-las no racismo de um continente que acostumou-se a pensar que é o
centro do mundo, e que discrimina, persegue e despreza, historicamente, o
estrangeiro, seja ele árabe, africano ou latino-americano; e no fundamentalismo
branco, cristão e rançoso da direita e da extrema direita norte-americanas,
cujos membros acreditam piamente que o Deus vingador da Bíblia deu à “América”
do Norte o “Destino Manifesto” de dirigir o mundo.” Mauro Santayanna blogueiro.
“Não sei de quem tenho mais medo: dos bandidos, dos
“mocinhos” ou de nós mesmos.” Leonardo Sakamoto, blogueiro.
PRESIDENTA DILMA,
EXPULSE
O EMBAIXADOR
DA INDONÉSIA NO BRASIL,Toto
Riyanto